O camarada Carlos Morais, secretário-geral do nosso partido, viajou na passada semana à capital venezuelana para participar no congresso internacional que deu passagem da Coordenadora Continental Bolivariana ao novo Movimento Continental Bolivariano, integrado por organizaçons revolucionárias latino-americanas e de outros continentes solidários com luitas dos povos da América.
Nom foi a primeira vez que diferentes dirigentes do nosso partido viajárom a países como Cuba, Equador ou a própria Venezuela, entre outros, para participar em eventos internacionalistas como o inaugurado no passado dia 7 de Dezembro.
De Primeira Linha em Rede, achamos de interesse conversar com o camarada Carlos Morais sobre questons relacionadas com o novo Movimento Continental Bolivariano e o papel da Galiza como apoiante do mesmo, com a integraçom do nosso camarada na sua Presidência Colectiva.
Porque se decidiu transformar a Coordenadora Continental Bolivariana em Movimento Continental Bolivariano? Que significado tem essa transformaçom?
Desde a constituiçom da CCB como estrutura de convergência de diversas expressons, basicamente, da esquerda latino-americana e caribenha, mas também com presença de diversos grupos de apoio europeus, passárom mais de sete anos. Após o sucesso da homenagem continental realizada em Agosto de 2003 para comemorar 190 aniversário da campanha admirável que Simón Bolívar realizou entre Cartagena e Caracas, tivo lugar dous anos depois, em Agosto de 2005, em Caracas o primeiro congresso da CCB. Posteriormente numha fase de expansom organizativa e acumulaçom de forças realizou-se em Quito, em Fevereiro de 2008, o II Congresso da CCB.
O entusiasmo revolucionário de um processo desta complexidade, envergadura e dimensom estivo também pragado de obstáculos e dificuldades inerentes à construçom de um ambicioso espaço unitário que abrange partidos políticos de esquerda, organizaçons revolucionárias, movimentos sociais, intelectuais comprometidos com o Socialismo, representantes dos povos originários e afrodescendentes, um enorme conglomerado de activistas estudantis, juvenis, da causa da emancipaçom da mulher, sindicalistas, ecologistas.
Assim, nestes anos foi-se somando um importante caudal de cores e aromas rebeldes, criando novos Capítulos em países onde antes nom tínhamos presença, que permitírom dar o salto quantitativo e qualitativo de coordenadora para movimento, com o intuito de melhorar e multiplicar a nossa eficácia para assim acelerar os objectivos que perseguimos de construir umha organizaçom internacional do Rio Bravo à Terra de Fogo para combater o imperialismo ianque, toda forma de colonialismo, o capitalismo na sua fase neoliberal, e simultaneamente promover a Revoluçom Socialista. O MCB avança na direcçom de promover a integraçom das diversas naçons do hemisfério na Grande Pátria sonhada por Bolívar, no caminho da superaçom da dependência que padecem os povos latino-americanos e caribenhos polo capitalismo e polas diversas formas de dominaçom com que historicamente se foi dotando.
Com esta transformaçom realizada no congresso constituinte que tivo lugar há uns dias, entre 7 e 9 de Dezembro, na capital da República Bolivariana da Venezuela, os povos latino-americanos e caribenhos, mas também todos aqueles, caso do galego, submetidos à dominaçom imperialista, contamos com umha nova ferramenta para combater as raízes da nossa dependência e promover a alternativa emancipadora do socialismo.
Qual é a dimensom da nova organizaçom? Podemos falar do germe de umha nova Internacional?
O MCB recolhe no seu seio o rico legado das rebeldias do que Martí denominou a “nossa América”. Desde os primeiros levantamentos contra o colonialismo espanhol encabeçados por Anacaona, Tupac Amaru e Tupac Katari até as revoluçons triunfantes inspiradas em Sandino, o Che e Fidel, os processos em curso na Bolívia, Venezuela, Equador, passando polo exemplo e firmeza da insurgência colombiana, os contributos de Marx e Lenine, de Mariátegui, Carlos Fonseca, Marighella, Rober Santucho, Miguel Enríquez, Jacobo Arenas e Manuel Marulanda, permitem compreendermos a importáncia do MCB.
Mais de 1.200 delegados e delegadas de trinta países conformam o germe de um imenso projecto revolucionário em pleno desenvolvimento baseado na pluralidade e diversidade, que consegue integrar no seu seio a históricos partidos comunistas como o do Chile, Venezuela, Argentina, México e Brasil, até forças insurgentes como as FARC-EP, organizaçons revolucionárias como o FMLN, URNG, Nova Esquerda Camañista, o independentismo portorriquenho, a resistência hondurenha, até destacados intelectuais como James Petras, Néstor Kohan ou Jorge Beinstein.
A presença de militantes e activistas de movimentos de libertaçom nacional europeus como o galego ou o basco, assim como de forças revolucionárias da Turquia e o interesse manifestado por organizaçons africanas e asiáticas, converte o MCB numha estrutura com grandes similitudes a umha Internacional. Porém, ainda é precipitado definir o MCB como umha nova Internacional. A acumulaçom de forças fora da América Latina e as Caraíbas é testemunhal, e a sua definiçom ideológica bolivariana, anticapitalista e socialista nom é suficiente para permitir empregar com rigor esta dominaçom.
Qual a relaçom do MCB com os governos anti-imperialistas de países como a Venezuela, a Bolívia ou Cuba?
O MCB conjuga e respeita as diversas formas de luita de que se dotam os povos para a sua emancipaçom e libertaçom. Valoriza como positivos, embora claramente insuficientes, os avanços experimentados na Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, O Salvador. Apoia a Cuba que resiste heroicamente após 50 anos de criminoso bloqueio as agressons dos Estados Unidos.
Porém, os povos devem seguir aprofundando na via socialista destes processos, participando activamente na construçom de verdadeiras e genuínas democracias socialistas, mas também cada vez mais conscientes de que cumpre preparar-se para um confronto directo com o imperialismo. Os Estados Unidos tenhem a determinaçom de recuperar manu militari o que desde a doutrina Monroe consideram o seu pátio das traseiras. Nom podemos desconsiderar que tanto Bush como Obama representam idêntico projecto expansionista e colonialista. A activaçom da IV frota, a instalaçom de sete novas bases militares ianques na Colômbia, o golpe de estado contra as Honduras, as tentativas de derrocar os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales, a desestabilizaçom do Paraguai… nom som episódios isolados, fam parte de umha estratégia belicista que pretende quebrar a onda anti-neoliberal e soberanista que percorre o continente. A cimeira da ALBA realizada ontem em Havana deixou bem claro o que representa Obama frente as maquilhagens que os progres e a esquerda reformista levam um ano a tentar construir para enganar e desarmar a luita dos povos, das mulheres e da classe trabalhadora pola sua libertaçom.
Que acolhimento tivo a presença de umha delegaçom independentista galega entre as participantes de continentes diferentes do americano?
Galiza leva mais de um ano a participar activamente na CCB, agora MCB, polo que nom somos exactamente uns recém chegados. Os vínculos entre o nosso país e boa parte do continente som antigos e inumeráveis. Galiza mantém umha estreitas relaçons históricas, culturais, sociais, políticas com a Pátria Grande de Bolívar, porque fomos acolhidos com grande generosidade quando desde o século XIX centenas de compatriotas encontrárom um segundo lar após terem fugido da miséria a que nos condenava Espanha, encontrando o tam desejado pam, trabalho e liberdade que nos negavam aqui. Posteriormente, também encontramos umha retaguarda para os milhares de combatentes exiliados após a perda da guerra contra o fascismo em 1936.
Havana, Buenos Aires ou Caracas fôrom determinantes na construçom e articulaçom da nossa luita de libertaçom nacional. Parte desta generosidade foi recompensada com a participaçom de centenas de galegas e galegos nos combates pola independência, contra as mais diversas formas de opressom, na construçom do sindicalismo e das organizaçons obreiras. Aí está Francisco Vilamil, o galego Soto, Soares Picalho, os irmaos Ameixeiras ou Diaz, Elsa Martins, Vítor Fernandes Palmeiro “Dedos”, e tantas e tantos outros.
Todo isto está presente no subconsciente dos povos latino-americanos e caribenhos.
A nossa presença no MCB serve para reactivar estes sentimentos de solidariedade, para pagar a dívida histórica, mas também para difundir que a Galiza de hoje padece idêntico inimigo contra o que combateu Bolívar, Sucre, Artigas, Manuelita Sáez e Martí. Que o imperialismo espanhol, o que agora cumpre o papel de aliado de segunda fileira de Obama na sua tentativa de impor um novo colonialismo, oprime a Galiza, nom cessa em tentar a plena assimilaçom que facilite a nossa exploraçom.
Por este motivo, a Galiza rebelde e combativa pretende recuperar e aprofundar nestes laços históricos, promover projectos de cooperaçom, intercâmbio e solidariedade.
O grau de compreensom da nossa luita como independentistas e revolucionários galegos é elevada. Conseguimos situar a Galiza no palco internacional, quebrando o manto de silêncio e ostracismo a que nos condena Espanha.
Além do mais, a participaçom da Galiza no MCB também deve servir para estreitar laços com a esquerda brasileira com a qual compartilhamos idêntica língua. Esse caminho já está a ser encetado nos últimos meses.
Qual será a participaçom da Galiza no recém constituído Movimento a partir de agora?
Dentro das nossas modestas possibilidades, continuaremos a reforçar a solidariedade internacionalista com as luitas dos povos do mundo em geral, e do continente americano em particular. Continuaremos a apostar na unidade anti-imperialista, em reforçar laços, difundir luitas, neutralizar as campanhas permanentes de criminalizaçom e estigmatizaçom do projecto bolivariano, desde o que padece o comandante Hugo Chávez até o que venhem sofrendo as FARC-EP.
Primeira Linha