Nas etapas de crise económica e social, o oportunismo manobra para ganhar adesons dos sectores populares desencantados com as forças sistémicas maioritárias. Pola sua natureza pactista e conciliadora, só procura alargar espaço e influência no quadro jurídico-político que pretende reformar, contribuindo assim para conter o potencial revolucionário dos povos, da classe trabalhadora e das mulheres.
Realizando umha lavagem de cara e maquilhando o seu discurso, gera falsas expectativas entre as faixas intermédias do proletariado submetidas a um processo de radicalizaçom pola ofensiva da burguesia. Esta prática tam só desvia o mundo do Trabalho da luita frontal contra o Capital e Espanha e da única alternativa válida: a acumulaçom de forças para avançar na via revolucionária de tomada do poder.
Numha análise histórica da luita de classes no nosso País e a escala internacional, depararemos com exemplos do fracasso e frustraçom que provocam processos similares aos que actualmente promove a nível estatal o PCE/IU.
A iniciativa “Refundando a esquerda”, que se apresenta como um bem intencionado e desejável processo de reconfiguraçom de umha esquerda “transformadora” mediante a soma de culturas políticas diversas, é umha fraudulenta operaçom eleitoralista promovida por umha das forças reformistas espanholas responsáveis pola reforma do franquismo e a II restauraçom bourbónica que perpetuou a economia de mercado, o patriarcado e a imposiçom da unidade do Estado espanhol negando o exercício do direito de autodeterminaçom.
A presença da FPG e do seu espaço próximo no comício que o PCE/IU organizou no sábado 5 de Junho no teatro Principal de Compostela é esperpêntica e patética, pura expressom de umha deriva oportunista que só procura ocupar um lugar marginal no regime.
A presença da formaçom de Abalo e Ferrín na versom autonómica do enéssimo processo de refundaçom do eurocomunismo espanhol nom é um facto isolado, fai parte de umha cultura política carente de princípios sólidos na hora das alianças em que a luita pola independência nacional da Galiza é sacrificada por imediatistas calculos elitoralistas.
A sua patológica promiscuidade oscila entre ofertar-se publicamente ao beirismo nas suas inofensivas manobras de distracçom, passando por manter alianças sindicais com o anarcosindicalismo espanhol, assinando enganosos manifestos unitaristas com parte do soberanismo, até colaborar com os herdeiros políticos do espanholismo carrillista.
Ontem, no Principal, assistiu-se à encenaçom de umha caldeirada requentada de aspecto saboroso mas insonsa e de amargo sabor. Com materiais adulterados e ingredientes apodrecidos, o resultado só poder ser a intoxicaçom.
Como é possível pretender dirigir a construçom de um movimento de libertaçom nacional coerente e com um projecto global para as maiorias sociais da nossa Pátria participando de teloneros num acto sucursalista presidido pola bandeira republicana espanhola e umha deslavada bandeira galega sem escudo nem estrela?
É viável acumular forças populares para a causa da independência, o socialismo e a superaçom do patriarcado da mao da entreguista social-democracia espanhola que nom reconhece o povo trabalhador galego e a Galiza como sujeito da nossa emancipaçom e libertaçom?
A FPG esqueceu ou nom quer saber que IU na Galiza age como que realmente é: um instrumento mais do capitalismo espanhol para assimilar o povo galego e disciplinar a capacidade de luita da classe trabalhadora.
Quando Cayo Lara afirma que “ZP merece umha greve geral, que o país pare” a que se refere: a Galiza ou a Espanha?
Cumpre reparar que o líder da IU que leva décadas fornecendo quadros ao PSOE e que até há umha semanas tam só aspirava a ser mero apêndice do pseudo-progressismo de Zapatero deixou claros os limites desta “refundaçom da esquerda” reivindicando umha bateria de mornas medidas retóricas características de qualquer ONG: gravar os lucros da banca, as transacçons na bolsa, umha melhor regulaçom das SICAV, a revisom das pensons dos banqueiros e dos salários dos altos executivos.
Politicamente é legítimo reconstruir a frente popular do ano 36, mas para isso há que ter a honestidade de reconhecer que se aposta em reproduzir os paradigmas interclassistas do espanholismo, que se carece de escrúpulos para agir de comparsa e branquear o sindicalismo corrupto de CCOO e que na agenda imediata se adia contribuir para a construçom de um movimento popular anticapitalista e independentista galego.
O de ontem foi umha mostra de desesperaçom da FPG, mas contribui para clarificar o panorama da esquerda independentista, deixando mais clara a existência de duas opçons: a reformista e a revolucionária.