Sim, de acordo, diria o mesmo se em lugar da Holanda fosse o Japom, Uruguai ou Ghana. Até poderia dizê-lo com mais simpatia se se tratasse da mais modesta selecçom africana, ou das irmás de língua Portugal e Brasil. Porém, no caso que nos ocupa, o fundamental é para mim que perda Espanha.
Haverá quem diga: «mas olha que só é um jogo, meu» ou quem pergunte: «também isso o politizades?» Aí eu responderei (já o figem com algum colega no trabalho) que tam político é desejar o melhor à equipa do Eñe, como desejar-lhe o pior. E eu, que torço polo Ene Agá, desejo a derrota dos da bandeira fascista imposta primeiro a tiro polo assassino Francisco Franco e agora polos «democratas» do PPSOE e a sua tiránica propaganda de massas.
Foi o antropólogo Benedict Anderson que formulou, já nos anos 80, a teoria das naçons como produtos históricos nascidos do imaginário colectivo. Umha teoria que, sem negar os pressupostos clássicos do marxismo sobre o facto nacional, os complementa nas suas carências.
Segundo essa teoria, a origem das naçons encontra-se na configuraçom de espaços imaginados, em torno de factos unificadores da consciência colectiva, tam relevantes como o surgimento da imprensa e das línguas impressas alternativas ao latim (na Europa), que serviriam para ir modelando umha comunidade soberana e limitada, nacional, existente enquanto imaginada polo colectivo que a conforma e se identifica com ela.
Inclusive em sociedades com importantes índices de analfabetismo tivo tanta importáncia no passado o desenvolvimento do capitalismo impresso para a autoidentificaçom das comunidades que dérom origem, com maior ou menor fortuna, aos estados-naçom actuais. Dá arrepios pensar como a utilizaçom das novas ferramentas de manipulaçom das massas pode ajudar a completar esses processos em casos nom culminados, como o espanhol.
No passado, as classes dirigentes nacionais recorrêrom ao ensino de umha história imaginária, à circulaçom limitada de referentes míticos comuns através do ensino, da rádio, do mercado editorial… ou, chegado o momento, à força bruta e à liquidaçom física da dissidência e de qualquer sombra de separatismo. Pensemos agora na dimensom que os mass media, apoiados nas novas tecnologias, tenhem adquirido em idêntica tarefa: a de criar umha comunidade imaginada que sustente o inacabado projecto nacional espanhol.
A televisom, a música, o cinema, o mundo dos famosos, as telenovelas, os desportos-espectáculo… todo isso e mais fai parte da construçom de um imaginário colectivo que serve de cimento para a construçom da autoritária Espanha, cuja manifestaçom futebolística antes se chamava «Fúria espanhola» e que só recentemente foi etiquetada como «la Roja».
O mesmo facto de inventarem às pressas esse novo apelativo desportivo, baseado na cor da camiseta, tenta homologar o Reino de Espanha com outras naçons referenciais, como a squadra azzurra italiana, a albiceleste argentina ou a canarinha brasileira. Tenciona criar elementos de uniom imaginária que sirvam de sustento para umha naçom em construçom. A tentativa fracassada de encontrarem umha letra para o seu hino é outro exemplo dessa mesma estratégia.
Sem ánimo de dar ao assunto maior dimensom da que tem, e reconhecendo a sua menor incidência na Galiza, permita-se-me questionar quem nega qualquer importáncia à grande difusom de bandeiras rojigualdas e pretende limitar o assunto a umha questom desportiva. O próprio tom que identifica essa propaganda, agressivo e insultante para o rival, como se vê na prática totalidade de reclamos e spots promocionais da selecçom espanhola de futebol difundidos nestes dias na imprensa, rádio e televisom, fai parte desse espírito violento e expansivo que sempre caracterizou «a Espanha eterna».
Sou galego e independentista. Aspiro a que o meu povo construa a sua própria naçom, democrática e igualitária, socialista. Por isso me magoa ver umha parte desse povo render-se à pressom propagandística de quem nos proíbe participar, com representaçom própria e sem intermediários, em qualquer evento de dimensom internacional. Dói-me ver umha parte do meu povo humilhado, convertido em servo e a adorar quem só quer liquidar-nos, reduzir-nos a umha província da sua Espanha “una y grande”, que nom livre.
Desejo profundamente a derrota do projecto nacional espanhol, em qualquer das suas formas e manifestaçons: autonómico, unitário ou federal, abertamente fascista ou falsamente democrático, como agora é. Aspiro a ver Espanha reduzida, no máximo, a país vizinho obrigado a conviver e respeitar o resto de povos moradores da Península Ibérica.
E já que «só» falamos de futebol e do Mundial, como espectador galego só me fica reafirmar a minha opçom…
Força, Holanda… e oxalá que perda Espanha.