Agosto é um mês em que a actividade festiva é intensa no nosso país; povoaçons de toda a nossa geografia, de maior ou menor tamanho celebram as festas locais e, nos concelhos com maior populaçom, as cámaras municipais gastam quantidades milionárias em fazer programas de festas com actos que pretendem ser multitudinários, com predomínio da música.
Os critérios para contratar artistas, segundo os próprios gestores, costuma ser o de arrastar quantidades significativas de público e também satisfazer na medida do possível tod@s.
Ainda que as festas nom sejam o único indicador polo qual se mede a política cultural de um governo autárquico, nem muito menos, sim podem ser um espelho. E, dos programas de festas das diferentes cidades podemos destacar duas cousas: a presença residual de artistas galegos e da língua galega e a imersom maciça e forçosa no mundo cultural hispano. Os artistas que se costumam contratar som ou bem artistas medíocres que estám circunstancialmente na moda, ou artistas que deixárom de estar na primeira linha de actualidade, nalgum caso há décadas. A releváncia mediática em Espanha é um referente decisivo para serem contratados. @s artistas galeg@s, som considerados «de segundo nível», ou em qualquer caso que apenas interessam a aquelas pessoas que tenhem certa tendência a consumir cultura galega, sobreentendendo-se que se trata, claro, de nacionalistas. Além disto, há que acrescentar que, em geral, a procura de cultura galega como muito costuma-se tentar satisfazer com a actuaçom de algumha banda de folk, nomeadamente as quatro ou cinco que tenhem espaço a nível mediático e que portanto também estám na maioria dos concertos folk com algum nome. Para @s artistas novéis nom há praticamente espaço, e menos se fam qualquer cousa que nom for folk. A reduçom da música galega ao folk também é um reforçamento dos clichés que lhe imponhem à cultura galega; ainda que seja claro que música tradicional é umha cousa e música folk é outra, a nível de massas essa distinçom nom se fai e a associaçom «música galega igual a gaitas» é a que funciona.
Por outra parte, está a introduçom de elementos absolutamente alheios à nossa cultura cuja presença tem a funçom de inundar as nossas cidades de turismo espanhol e também homogeneizar hábitos socioculturais com Espanha. Na Galiza a realizaçom de touradas é umha questom anedótica e chegou a desaparecer quase por completo por falta de público. Na Corunha a falta de continuidade, a falta de atracçom entre as geraçons mais novas por parte dos festejos taurinos fijo desaparecer as touradas; depois interesses imobiliários figérom desaparecer a praça de touros. Desde os anos 90, e por interesses puramente político-ideológicos, voltárom-se organizar touradas sem que quase vinte anos de feira taurina, mantida nom sem problemas com as empresas concessionárias da organizaçom do espectáculo e sem injecçons de dinheiro público cujo custo nom se quer revelar, nom conseguírom criar na cidade herculina um público. Ainda assim, persiste-se na realizaçom da feira taurina, e isto depois de sabermos que mais de 70% da vizinhança da Corunha rejeitam a celebraçom destes eventos. Em Ponte Vedra, a praça de touros é privada e os festejos taurinos também os organiza umha empresa privada, mas a Cámara Municipal inclui a feira taurina no programa de festas; umha atitude pouco digna por parte de um executivo local presidido por Miguel Fernandes Lores, do BNG, que colide com o discurso que sobre o tema tem a sua própria força política. De qualquer maneira, o BNG cogoverna na Corunha, e nunca criticou sequer, desde que tem responsabilidades de governo, a realizaçom de touradas.
Há que dizer que a esquerda independentista junto aos Centros Sociais é a única na Galiza que todos os anos reivindica umhas festas galegas, plurais e participativas. Galegas, porque evidentemente somos nós que pagamos as festas das nossas cidades e somos fundamentalmente nós que as temos que desfrutar, plurais porque o justo é que satisfagam o mais amplo abano de gostos e interesses, e participativas porque o povo deve participar, através do movimento associativo, da elaboraçom do programa de festas; sempre se entendeu que havia que acabar com os caprichos e as arbitrariedades de vereadores mafiosos que apenas tomam decisons com o intuito de que os seus amigos fagam negócio.
O paradigma da burla à vontade popular é o referendo digital que argalhou o governo local de Ferrol, no qual se convidava as pessoas a votar ciberneticamente nas actuaçons que desejavam para as festas de Amboage, isso sim, sem compromisso firme de cumprir exactamente com o que se pedisse. Está claro que a Internet nom é o meio idóneo para fazer este tipo de consultas, porque nom toda a populaçom tem o mesmo accesso a esse méio nem a mesma familiariedade com ele. Por seu turno, o ganhador simples ou absoluto de tal votaçom é claro que nom vai expressar a vontade do povo, que nom se condensa numha mera actuaçom musical. O programa de festas abrange muitos aspectos, nos quais deve haver participaçom popular, leia-se orçamentos, que tipo de actos se devem fazer, etc.